Ser Feminina e Ser Feminista
25/03/2010
Dom Antonio Augusto Dias Duarte - Bispo Auxiliar da Arquidiocese do Rio de Janeiro
O dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher, mesmo após a sua passagem, deixa um rastro nítido para uma maior reflexão e para ações a favor da feminilidade. É verdade que em torno dessa data as bandeiras, caras aos movimentos feministas que lutam há décadas pelos direitos da mulher, são içadas com todo vigor e vão gerando muitos questionamentos e discursos de vários matizes ideológicos.
Dentro dessa combinação diversa de pensamentos, de posicionamentos políticos, filosóficos, sociológicos e éticos, não se deve perder de vista o que realmente está em debate: o ser feminina ou o ser feminista?
O pluralismo cultural, marca registrada da segunda metade do século XX, está ameaçado nesse início do terceiro milênio por um sério perigo, que afeta bastante o reto debate sobre os direitos humanos, civis e políticos da mulher brasileira.
Atribuir a uma pluralidade de causas históricas a apropriação indevida da pessoa e do corpo feminino tornando a mulher um ser familiar e social inferior, e/ou reduzindo-a a uma “Amélia” – famosa pelo samba que a intitulou como “mulher de verdade” –, está gerando um autêntico diálogo de surdos. Este é o perigo grave que acaba envolvendo esse debate necessário e profundo entre ser feminista e ser feminina.
Sempre há quem dominado pela surdez intelectual não quer ouvir e não quer refletir e não quer aprofundar nas argumentações e nas idéias procedentes de outros segmentos da sociedade que não os próprios. Mas há pessoas retas e sinceras que também querem contribuir com a valorização e com a inserção cada vez maior da mulher no mundo profissional, político e eclesial, e estas são impedidas por muitos “surdos” e “surdas” que levantando as suas bandeiras feministas têm nas mãos aquelas máquinas da época da inflação no Brasil, que remarcavam o preço dos produtos dos supermercados a cada 24 horas. Eles e elas na sua surdez caracterizam-se por remarcar com valores falsos de reacionários, fundamentalistas, católicos retrógrados, liberais inconseqüentes, etc., aqueles e aquelas que também têm o direito de ser feministas.
Precisamos de um debate aberto, franco, respeitoso, sobre o real valor e a autêntica inserção da mulher na sociedade brasileira, começando por um ponto crucial: por políticas públicas que respondam satisfatoriamente a reivindicações seculares, isto é, que realmente considerem a mulher como mulher, como feminina na sua natureza, como pessoa insubstituível na família, no mundo da educação, nos setores da administração de empresas públicas e privadas, no campo da cultura, na gestão da saúde, e naqueles cargos existentes no Brasil onde a sua liderança deve ser humanitária e não apenas partidária.
Chegou a hora de cessar a linha de fogo existente entre “alguns surdos e algumas surdas” e aquelas mulheres e aqueles homens que estão querendo dialogar com audição e sem discriminação sobre o feminismo e o ser feminino, entre os quais destacaria muitas “mulheres-mulheres” com suficiente inteligência e com profundo coração humano, que compreendem e amam o ser femininas.
Elas têm tamanha percepção dos problemas da mulher brasileira que não a dividem entre ricas e pobres, entre católicas e evangélicas, entre pretas e brancas, e muito menos não colocam os dois sexos em campos ideológicos opostos, onde se travam batalhas encarniçadas.
A percepção e o amor que conduzem a um feminismo de harmonização com o masculino, querem conduzir a mulher e o homem pela via dos avanços culturais e políticos, das conquistas legais estruturais, somando esses dois modos complementares de ser pessoa humana, e de ser pessoa socialmente ativa.
O mês de março, com essa data tão significativa para a mulher, precisa deixar esse rastro de reflexão e ação para um avanço destacável da valorização e da participação das “mulheres–mulheres” nas grandes questões que atualmente estão sendo discutidas no Brasil, tais como a questão da vida e da família, a contenda sobre os direitos humanos, a discussão sobre a dupla jornada de trabalho da mulher, a temática envolvendo a exploração das meninas no turismo sexual e na prostituição nas grandes cidades, o assunto delicado do planejamento familiar sem o recurso fatal do aborto, das pílulas abortivas, que tantos malefícios trazem para as crianças e para suas mães, e tantos outros assuntos onde o ser feminino sendo respeitado de verdade favorecerá para um feminismo evoluído.
Como Bispo da Igreja Católica – também como cidadão brasileiro – sinto-me obrigado a estimular a todas e a todos que estudem e dialoguem e legislem sobre a mulher e nunca deixem de lado a força moral que só ela tem: a ela foi confiada, de uma maneira especial, o homem, o ser humano, e tal missão nasce pelo fato da sua feminilidade, que define particularmente a sua pessoa e o seu destino.
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sexta-feira, 26 de março de 2010
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