terça-feira, 9 de agosto de 2011

Sabemos o que defendemos e a quem defendemos

Sabemos o que defendemos e a quem defendemos
agosto 7, 2011 por Wagner Moura


Prof. Hermes Rodrigues Nery

Palestra proferida no II Seminário de Promoção e Defesa da Vida da Arquidiocese de Londrina – PR (em 9 de julho) e no Centro Schumann, em Belo Horizonte – MG (em 30 de julho), conteúdo este também publicado na edição de agosto/2011 na revista Catolicismo, em forma de entrevista.

A Igreja — provada por 2.000 anos — sustenta uma verdade de amor que supera todos os equívocos da História; os enganos ideológicos que são como o “psiu” da serpente, que prometem a panacéia utópica de realidades temporais, a qual se transforma em pesadelos totalitários e inumanos. Daí a “pérola da verdade” que a Igreja mantém como sã doutrina que permanece rocha inconcussa, a confirmar o que Jesus assegurou a Pedro: “As portas do inferno não prevalecerão”. Mas esta convicção requer de nós pôr a mão no arado, carregar a cruz e seguir Nosso Senhor Jesus Cristo. Daí o sentido da missão evangelizadora ser cada vez mais exigente, em meio a tantos desafios.

Gostaria de dizer como Chesterton: “Sou o homem que — com grande ousadia — descobriu apenas o que havia sido descoberto antes: a Igreja é o caminho seguro da salvação”. É o que a experiência mostra com fartos exemplos do cotidiano. “Fora da Igreja não há salvação!” Isso é de uma tão grande atualidade, que nos fortalece quando nos vemos na tempestade da pós-modernidade. E quando o barco em que estamos parece não dar conta de tão grandes ondas adversas, ouvimos a voz de Jesus — que anda sobre as águas e acalma o mar — a nos dizer repetidas vezes: “Não tenham medo!”.

O maior desafio é não se deixar levar pela correnteza daqueles que querem banir Deus do horizonte da História. E agora — mais do que nunca — é hora de reconhecermos que precisamos de Deus. Por isso rezamos e trabalhamos, para nos mantermos vinculados a Ele (daí o sentido da religião – re ligare), pois é este vínculo com o Altíssimo que irá garantir a vida eterna. Esta é a vida que nos interessa: a vida verdadeira.

O apelo pela defesa da vida foi feito pelo papa João Paulo II, em sua memorável encíclica Evangelium Vitae. A defesa da vida, portanto, é hoje prioridade na missão evangelizadora, para que a vida digna seja condição para a vida plena na eternidade. É nesse campo que sopra mais forte o Espírito Santo, a exigir de nós uma atuação coerente com o Evangelho. A Evangelium Vitae é profética porque denunciou as novas ameaças à vida humana e as hostilidades contra a instituição familiar (e também contra a Igreja), demonstrando que tais ataques – cada vez mais intensos – não são espontâneos, mas planejados e sistematizados por poderosas forças culturais, políticas e econômicas, que têm como objetivo minar a sã doutrina católica, para relativizar e banalizar cada vez mais o sentido e o valor da vida, vulnerabilizando a pessoa humana a condições indignas de existência. Tais ataques fragilizaram a vida humana de modo especial na fase nascente (com a tragédia do aborto) e no seu ocaso (com a eutanásia), dentro de um contexto político que o próprio papa chamou de “conjura contra a vida”, em que forças ideológicas vão impondo estilos suicidas que se voltam contra o ser humano, agrilhoando-o a falsas necessidades e perversas ilusões.

A Igreja quer vida para todos

Há um embate que o papa chamou de “cultura da morte x cultura da vida”, em uma “guerra dos poderosos contra os débeis”. Realidade esta tão bem documentada e elucidada, por exemplo, por Edwin Black, em seu livro “A Guerra contra os Fracos – A eugenia e a campanha norte-americana para criar uma raça superior”. Os mesmos institutos e fundações norte-americanos que naquela época investiram nas pesquisas nazistas por uma “higiene racial” da espécie humana, (recorrendo às esterilizações), são as que hoje promovem o aborto e a eutanásia, no Brasil e no mundo. Através da permissividade legislativa, os poderes constituídos vêm aprovando leis contra a vida: descriminalizando o aborto, autorizando a eutanásia, permitindo o uso de embriões humanos em pesquisas científicas, ferindo a dignidade sacramental do matrimônio ao legitimar uniões do mesmo sexo, com o direito de adoção de crianças, negando assim o direito à criança da insubstituível e imprescindível paternidade e maternidade, indispensável à formação integral da pessoa humana. Por isso a Evangelium Vitae buscou sensibilizar os governantes e legisladores não apenas a elaborar e aprovar leis em favor da vida, como a sociedade de um modo geral a colocar-se ao lado da vida, na defesa do nascituro, do portador de necessidade especial, dos idosos, enfim, dos mais fragilizados do mundo, pois o que a Igreja quer é a vida para todos.

A Igreja sofre com tudo isso, daí ser imprescindível a defesa da vida. Mas, afinal, que forças ideológicas são estas que formam o que a Evangelium Vitae chamou de “cultura da morte”? A Igreja não apenas sofre com tudo isso, mas é atingida por estas forças ideológicas, no que ela tem de mais sagrado. Há uma sutil estratégia, no intuito de tentar corroer inclusive por dentro da instituição, os seus princípios e valores, com uma metodologia muito sofisticada: descaracterizando conceitos, dando outro sentido e significado àquilo que a Igreja sempre anunciou como valor de vida, relativizando e debilitando a moral cristã, para viabilizar a aceitação de um ideário inteiramente anárquico. São forças antigas, antiqüíssimas, que já atuavam desde os primórdios da Igreja (a começar pela gnose), e que agora encontram na tecnologia e nos tantos meios de manipulação dos mass media, armas mais possantes visando atingir os alicerces da Igreja, numa somatória de esforços, com investidas luciferinas, com o propósito de destruir a fé cristã. De todas as religiões, é a doutrina católica apostólica romana a que se quer mais atingir. Estas forças ideológicas (o laicismo de raízes maçônicas e também anarquistas, o ateísmo agressivo, o fundamentalismo ambiental, o feminismo radical, o cientificismo huxleano, etc.) têm sido difundidas e sustentadas por instituições, organismos sociais e empresas, com vasta ramificação em todo o planeta, direcionando seus dardos principalmente contra a Igreja Católica.

Na história recente, depois da Segunda Guerra Mundial, estas forças se intensificaram e passaram a atuar de modo mais sistematizado. Desde 1952, em departamentos da ONU, com o apoio crescente de grandes fundações internacionais (Rockefeller, Ford, entre outras) foi se estruturando no interior de muitas instituições, principalmente no meio universitário e das comunicações, e governos, um anticatolicismo, que superou o anticlericalismo do passado, pois agora é a doutrina moral católica que está seriamente ameaçada. “A perspectiva católica é um bom lugar para começar, tanto em termos filosóficos, sociológicos como teológicos, porque a posição católica é a mais desenvolvida – afirmou Frances Kissling, a fundadora da OnG “Católicas pelo Direito de Decidir” – que é católica só no nome, para confundir – Assim, se você puder refutar a posição católica, você refutou todas as demais. Se você derrubar a posição católica, você ganha”. Enfatizou a líder feminista. O próprio Rockefeller tentou persuadir o papa Paulo VI a “flexibilizar” a moral católica na Humanae Vitae, especialmente na questão do aborto. Até então havia muito investimento em contraceptivos. Mas Paulo VI, a exemplo do que faz hoje Bento XVI, permaneceu fiel à sã doutrina, e foi odiado por tantos, inclusive por muitos até de dentro da Igreja, pelo Santo Padre ter se posicionado com coerência, e ter tomado a difícil, mas necessária decisão da fidelidade ao Magistério da Igreja.

Logo depois, Rockefeller, em meados de 1974, mudou de estratégia: aderiu ao feminismo radical para disseminar a ideologia de gênero para, aos poucos, ir minando na base, a doutrina católica, especialmente no campo da sexualidade. Todos os investimentos passaram a ser feitos em OnGs, publicações, eventos, propaganda televisiva, flexibilização legislativa, e todo este rolo compressor midiático de apologia ao homossexualismo, à liberação do aborto, das drogas, da prostituição, etc. Sabiam que este seria mais um passo em uma profunda revolução, no âmbito da cultura e da moral, que poderia levar mais de 30 anos, mas houve planejamento, monitoramento, estratégia de manipulação e persistência, para moldar (através dos meios de comunicação), a nova geração a ser receptiva a uma nova mentalidade (contraceptiva, antinatalista, moralmente permissiva e anti-cristã). Esse é o pano de fundo histórico e cultural dos temas abordados corajosamente pela Evangelium Vitae. “Esta situação dramática do mundo – explica o Catecismo (409), – que ‘o mundo inteiro está sob o poder do Maligno ‘ (1Jo 5, 19), faz da vida do homem um combate: uma luta árdua contra o poder das trevas perpassa a história universal da humanidade”. E ressalta que “inserido nesta batalha, o homem deve lutar sempre para aderir ao bem; não consegue alcançar a unidade interior senão com grandes labutas e o auxílio da graça de Deus”.

O apelo lançado pela Evangelium Vitae pela defesa da vida deve mobilizar a sociedade nesta nova frente de batalha (e rogamos a intercessão de São Miguel Arcanjo!), pois vemos que os ataques contra a vida e a família, são também ataques contra a Igreja. Mas é promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo de que ela não será inteiramente combalida. O próprio Catecismo afirma que “a consumação da Igreja e, através dela, a do mundo, na glória, não acontecerá sem grandes provações” (CIC, 769). É promessa de Jesus: “quem perseverar até o fim, será salvo!” (Mt 10, 22)

O holocausto silencioso do aborto: ponta do iceberg

A questão do aborto é a ponta do iceberg. Há um holocausto silencioso, vitimando milhares de seres humanos, a cada dia, em todas as partes do planeta; vidas ceifadas ainda no ventre materno, do modo mais cruento e doloroso, pois o inimigo de Deus tem sede do sangue inocente. “Estamos todos na realidade presos pelas potências que de um modo anônimo nos manipulam”, afirmou Joseph Ratzinger em seu livro “Jesus de Nazaré”. Essas potências que atuam “de modo anônimo” têm expressão nos centros privados do poder, nas grandes fundações (como as Organizações Rockfeller, a Ford, a MacArthur, a Buffet, a Gates, a IPPF, a Bemfam, o IPAS), na vasta rede de OnGs feministas que defendem os direitos sexuais e reprodutivos, em agências da ONU, etc., que querem “construir o mundo de um modo autônomo, sem Deus”; daí a obsessão pela manipulação da vida, com as possibilidades inquietantes em decorrência dos avanços biotecnológicos. Depois da obsessão por uma libertação que primeiramente se expressou por uma utopia social, agora quer se chegar a uma libertação mais profunda, contra até mesmo as condições biológicas do ser humano. “Aqui se ultrapassou, por assim dizer, a teologia da libertação política com uma antropológica”, explicou Ratzinger, em sua obra “O Sal da Terra”. Tais forças de poder atuam no esforço de um desmonte das estruturas civilizacionais do direito natural, e na arquitetura de uma engenharia social, tecnicamente planejada para um completo domínio da vida. O controle populacional faz parte desta estratégia. O aborto, portanto, é um aspecto sombrio desta terrível realidade que o papa chamou de “cultura da morte”.

No Brasil, todas estas ideologias estão contidas no Plano Nacional de Direitos Humanos – PNDH3, que causou assombro e perplexidade entre vários setores da sociedade, quando foi lançado pelo governo federal, em dezembro de 2009. O fato é que com o PNDH3, direitos humanos se transformam em palavra-de-ordem para justificar uma nova mentalidade e ordem mundial inteiramente amoral, em que a pessoa deixa de ser sujeito para se tornar objeto, destituída de humanidade, sem proteção e promoção, anulada em sua identidade e vítima de reducionismos aviltantes, em graus diferenciados de manipulação, que é a pior de todas as violências. Por isso a Igreja se posiciona em favor da vida, como fez valentemente Dom Luiz Gonzaga Bergonzini, bispo de Guarulhos, durante a campanha presidencial de 2010, denunciando o governo federal de estar comprometido com estas ideologias do mal, tão evidentes no PNDH3. Desde a publicação da Evangelium Vitae, tem havido iniciativas nesse sentido, em muitas partes do mundo. No Brasil, após a aprovação da Lei de Biossegurança (em março de 2005) esta mobilização vem crescendo. Tem surgido em várias dioceses, comissões diocesanas em defesa da vida, grupos de estudos na área de bioética, movimentos de leigos comprometidos com o Evangelho da Vida.

Na Diocese de Taubaté, o nosso bispo Dom Carmo João Rhoden fundou, em 28 de outubro de 2005, o Movimento Legislação e Vida, que coordeno junto com o Pe. Ethewaldo Naufal L. Júnior, e também a comissão diocesana em defesa da vida. Realizamos vários seminários de bioética e um Congresso Internacional em Defesa da Vida, no Santuário de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (em fevereiro de 2008). Desde então, junto com outras comissões diocesanas e demais grupos (como o Movimento Nacional da Cidadania pela Vida – Brasil Sem Aborto, que é suprapartidário e suprareligioso), estamos acompanhando em Brasília, os projetos de lei relacionados a vida e família que tramitam nas comissões do Congresso Nacional, bem como as deliberações no Supremo Tribunal Federal (como a ADIN 3510, a ADPF 54 e outras). Com um trabalho coordenado e integrado, temos conseguido importantes vitórias no campo legislativo. Em maio de 2008, por 33 x 0 o PL 1135/91, visando despenalizar o aborto no Brasil, foi rejeitado na Comissão de Seguridade Social e Família e também posteriormente pela Comissão de Constituição e Justiça. Promulgamos ainda no período em fui presidente da Câmara Municipal de São Bento do Sapucaí (2009-2010), a primeira lei orgânica pró-vida do País, incluindo no texto constitucional local o direito a vida desde a fecundação até a morte natural, com diretrizes do humanismo integral, destacando que o direito a vida é o primeiro e o principal de todos os direitos humanos.

A nossa Diocese também lançou, em novembro do ano passado a Campanha “São Paulo pela Vida”, que conta hoje com o apoio da Comissão Regional em Defesa da Vida do Regional Sul 1 da CNBB. Esperamos através da iniciativa popular obter mais de 300 mil assinaturas para inserir na constituição do Estado de São Paulo o direito a vida desde a fecundação. Em nível federal, propomos ainda no 4º Encontro Brasileiro de Legisladores e Governantes pela Vida, no começo deste ano, que os deputados federais da Frente Parlamentar Mista em Defesa da Vida trabalhem pela aprovação da PEC pela Vida, para através de emenda constitucional garantir o direito a vida de modo integral. O que já foi feito em nível municipal, esperamos conseguir em âmbito estadual e, se Deus quiser, também nacional. Nesse sentido, há ainda esforços pela aprovação do Estatuto do Nascituro. Todas estas iniciativas mostram que a Igreja está viva e atuante, apesar das tantas dificuldades existentes. O nosso trabalho em nível diocesano é feito em comunhão eclesial, com o Bispo, o padre assessor e os leigos. E também integrado a outros grupos que trabalham nesse sentido, pois diz o Catecismo claramente que “a missão de Cristo e do Espírito Santo realiza-se na Igreja” (CIC, 737). Superando os problemas, vamos buscando – fiéis ao Magistério da Igreja – estarmos mais disponíveis à graça de Deus, pois é Ele quem opera.

S. Afonso de Ligório é enfático em dizer que a oração deve preceder a ação, para estabelecer o vínculo perfeito que propicie a abundância das graças, que somente Deus pode oferecer a quem a Ele recorrer sinceramente. É o lema de São Bento “ora et labora” que atualiza a pedagogia de Deus no mistério da Igreja, orante e militante, na defesa da vida humana, de modo integral, na dimensão soteriológica, com a perspectiva para a realidade última; pois a vida definitiva depende desta provisória, das nossas decisões e adesões que fazemos no dia-a-dia. E então somos levados a refletir: sobre que lastro construímos a nossa história? Nesse sentido, a Igreja confirma Jesus Cristo como “caminho, verdade e vida”, e é esta vida que defendemos: a vida nova proposta por Jesus, que começa aqui a ser edificada. Daí o imperativo bíblico tão atual: “Escolhe, pois, a Vida!”.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Padre Anderson na OAB NIteroi defendendo os nenens inocentes ameaçados pelo aborto

Na última segunda-feira, dia 21/03/2011, a OAB-Niterói ofereceu ao público um debate para esclarecer questões sobre o aborto no Brasil. Este evento intitulado de “Aborto: o paradoxo entre o direito à vida e a autonomia da mulher” estava dentro de uma agenda preparada pela instituição para comemorar o Dia Internacional da Mulher.
O evento organizado pela OAB, deveria até pelo renome dado à instituição, prever um debate onde houvesse equilíbrio entre as partes debatedoras. Mas isto não ocorreu, pois na mesa debatedora havia nada mais que 4(quatro) debatedoras favoráveis ao aborto (da ala feminista), e 1(um) contrário ao aborto (Padre Anderson).
A presidente da mesa informou ao final, que não havia como saber o teor dos argumentos utilizados pelos debatedores, e que por isso não era intenção fazer um debate que favorecesse a ala que defende o aborto.
Só ela mesma para pensar que o público presente acreditaria.
Não duvido até pelo histórico maquiavélico de outros debates, que formar uma mesa onde se encontram 5(cinco) mulheres (4 debatedoras + 1 presidentA de mesa) e um padre, não foi coincidência. Basta pesquisar os nomes das feministas no google, para concluirmos de que lado estão.
Pela desproporção, era muito provável que seria visto no debate o “fuzilamento do Padre”, afinal a instituição que mais têm se manifestado como contrária ao aborto é a Igreja Católica.
Mas amigos, pela graça divina, não foi isso que vimos.
Inicialmente foi apresentado ao público os palestrantes, por ordem no debate: a Antropóloga Sônia Correa, a Historiadora Ismênia Martins, o Padre Anderson, a Médica Maria do Espírito Santo (Santinha), e uma acessora de Jandira Feghali.
Entre as regras apresentadas, havia aquela que definia o tempo de cada debatedor. O tempo limite para cada um seria de 10 minutos prorrogáveis por mais 5 minutos.
As duas primeiras debatedoras foram extensamente favoráveis à descriminalização do aborto no Brasil. A antropóloga traçou a luta feminista no Brasil, desde as décadas de ditadura. Lembrou ainda casos onde a morosidade da justiça “infelizmente”, pasmem, “infelizmente” permitiu que a mulher tivesse o filho.
Logo depois a historiadora narrando fatos desde a época do Brasil Império, quis provar que a luta pelo aborto é um direito. Posteriormente, lembrando inclusive cenas de uma novela atual da rede globo, chamou de hipócritas os contrários a prática do aborto, sob o argumento de que há clínicas clandestinas que fazem aborto, e que muitos sabem onde elas se encontram. A lógica utilizada pela historiadora, era que mesmo criminalizando o aborto, ele ocorre.
Posteriormente foi dada a palavra ao Padre Anderson, que argumentou perfeitamente, inclusive dentro do tempo proposto. Sua conclusão magistral citou o julgamento Roe versus Wade de 1973. Para quem não sabe foi um julgamento na Suprema Corte dos EUA, onde a jovem Roe requereu em juízo o direito para abortar. O interessante é que os argumentos utilizados (levando a crer de que o feto não é pessoa) foram os mesmo utilizados no século anterior, em 1857, na sentença “Dred Scott” que havia declarado que o negro não era pessoa.
Após sua belíssima explanação, o auditório aplaudiu com entusiasmo por um grande período.
Parece que isso enfureceu a debatedora seguinte.
De forma intimidadora e sem compostura, iniciou relatando sua origem católica, e sua atual condição de anticatólica. Veementemente citou que por anos os grupos feministas rodeiam a barriga da mulher, mas não conseguem tomar posse do que é delas de direito. Como se a criança no ventre fosse um nada.
Ela continuou sua colocação de forma furiosa, mas com certeza foi “um tiro no pé”. Sua colocação se estendeu em demasia levando o público presente a manifestar-se contrariamente, inclusive exigindo direito de resposta ao Padre. A presidente da mesa pediu desculpas ao público e passou a palavra para a próxima debatedora.
A debatedora seguinte se ateve ao limite de tempo, porém como sempre acontece apresentou os famosos dados estatísticos que elas tiram não sabemos de onde.
Ao final, o Deputado Márcio Pacheco, advogado, e membro da frente parlamentar em defesa da vida no Rio, pediu a palavra para manifestar seu desconforto em ver um debate promovido pela OAB, onde a parcialidade era visível.
1(uma) hora dada para os favoráveis à descriminalização do aborto e 15(quinze) minutos para os que são contra. Ele disse em alto tom, que entrará oficialmente com uma representação solicitando novo debate.
O pior de tudo foi verificar que diante dos nossos olhos, na primeira fila, estavam os médicos Dr. Herbert Praxedes e Dr. Dernival Brandão, que não foram convidados para o debate, e que em nenhum momento foi lhes dada a palavra para esclarecer fatos concretos como médicos e especialistas que são.
A conclusão que podemos tirar do debate, é a fundamental importância do público presente. Poderia ter acontecido que não havendo manifestações o debate ocorreria conforme planejado, ou seja, o estereótipo montado na mesa debatedora, onde um homem, padre, logo “A Igreja Machista” mais uma vez perseguia os direitos femininos.
Segundo até relato do próprio Padre Anderson após o debate, o público presente demonstrou a opinião da sociedade. O público presente não fora formado apenas de homens ou da cúpula da Igreja. Havia homens e mulheres, jovens e idosos, advogados e outros profissionais, ou seja, era um auditório heterogêneo que em sua maioria era desfavorável ao aborto, e que não aceitou engolir goela abaixo os argumentos mais uma vez fracos, ou melhor, fraquíssimos e por vezes infundados daqueles que defendem ao aborto.
Unamos forças para que num futuro debate, aqueles que defendem a vida estejam presentes, e quando necessário manifestem contrariedade aos argumentos apresentados.
Termino nossa postagem com um relato recebido por e-mail, de Márcio Mureb que também esteve no debate:
Acabei de voltar do debate sobre o aborto na OAB/Niteroi. Padre Anderson arrasou!!!! Pensei que ele não tivesse muito conhecimento sobre o assunto, mas para a minha surpresa tratou deste com grande genialidade utilizando sobremaneira, o ponto de vista cientifico, medico e juridico com muita segurança. Fez algumas pontuações históricas sobre a valorização da mulher pela igreja católica durante os dois mil anos de existência e mostrar por A+B que antes, as outras civilizações tratavam a mulher como um ser inferior e que ninguém como a própria Igreja lutou e luta tanto pela dignidade da mulher, fazendo contraponto com os meios de comunicação que, ao contrário utilizam a imagem da mesma como objeto de consumo, aviltando a sua dignidade.
O padre Anderson tem uma postura elegante nos gestos e na maneira de falar, com ótima entonação de voz e foi um cavalheiro, mostrando presença e mantendo-se sempre tranquilo sem demonstrar nenhum sinal de irritação, nervosismo ou antipatia para com as outras debatedoras a ponto de percebermos um certo constrangimento das, vamos dizer assim, moças, que ali tentavam em vão vender o seus peixes. Um verdadeiro gentleman.
Acho que 95% do auditório era pro-vida.
Tinha um jovem deputado estadual da frente parlamentar pro-vida, que agora não lembro o nome, no final do debate interveio junto a presidente da mesa, reclamando da desigualdade, porquanto não havia um equilibrio de forças, pois tinham quatro abortistas contra um pro-vida. Pediu que fosse feito outro debate em pé de igualdade, o que a presidente disse encaminhar a diretoria. Foi muito aplaudido. Nem precisava, só o padre Anderson deu conta das quatro sozinho com os pés nas costas.
Uma mocinha que estava na minha frente, não se conteve quando uma debatedora passou do tempo dela, sem que a presidente da mesa fosse firme, e levantou-se e foi para a frente com dedo em riste pedindo direito de resposta para o padre. Êta! Menina valente!
Uma outra debatedora trouxe um datashow apresentando, voces sabem, aqueles graficos com um monte de numeros e dados estatisticos falsos. Tio Dernival não se fez de rogado, interveio maravilhosamente, desmascarando a moça, que ficou com uma cara de pateta.
Foi muito bom!
A Paz!
Sancte Michael Archangele, defende nos in prælio. Amen.

terça-feira, 1 de março de 2011

" O aborto não resolve nada! Mata a criança e destrói a mulher"

Papa: "Aborto não resolve nada. Mata a criança e destrói mulher"
Leonardo Meira
Da Redação


Arquivo
Papa às mulheres que abortaram: ''Abri-vos com humildade e confiança ao arrependimento: o Pai de toda a misericórdia espera-vos''
O Papa Bento XVI recebeu em audiência os participantes da 17ª Assembleia Anual da Pontifícia Academia para a Vida na manhã deste sábado, 26, na Sala Clementina do Palácio Apostólico Vaticano. Os temas dos debates da Academia, que iniciaram no dia 24, foram as consequências do aborto e da utilização de bancos para conservação de cordão umbilical.

"O aborto não resolve nada, mas mata a criança, destrói a mulher e cega a consciência do pai da criança, arruinando, frequentemente, a vida familiar", disse o Pontífice.

Acesse
.: NA ÍNTEGRA: Discurso de Bento XVI na Plenária da Academia para a Vida

Bento XVI recordou também a importante função dos médicos em defender do engano as mulheres que pensam encontrar no aborto a solução para os conflitos familiares:

"Tal tarefa, todavia, não diz respeito somente à profissão médica e aos agentes de saúde. É necessário que a sociedade toda se coloque em defesa do direito à vida do concebido e do verdadeiro bem da mulher, que nunca, em nenhuma circunstância, poderá se realizar na escolha do aborto", exclamou.

Quanto às mulheres que já tenham recorrido à prática e que agora experimentam um drama moral e existencial, o Papa salientou que é preciso oferecer apoio psicológico e espiritual para uma recuperação plena. "A solidariedade da comunidade cristã não pode renunciar a esse tipo de corresponsabilidade", disse.

Com relação à temática da síndrome pós-abortiva – o grave desconforto psíquico experimentado frequentemente pelas mulheres que recorrem ao aborto voluntariamente –, o Santo Padre explicou que isso "revela a voz insuprimível da consciência moral e a ferida gravíssima que ela sofre cada vez que a ação humana atraiçoa a inata vocação do ser humano ao bem".

Nessa perspectiva, o Sucessor de Pedro definiu consciência moral como uma prerrogativa não apenas dos cristãos ou dos fiéis, mas como algo que acomuna todo o ser humano e ajuda a discernir objetivamente o bem do mal nas diversas situações da existência, para que o homem possa orientar-se ao bem.

"Na consciência moral, Deus fala a cada um e convida a defender a vida humana em todo momento. Nesse vínculo moral com o Criador está a dignidade profunda da consciência moral e a razão da sua inviolabilidade", indicou.


Cordão umbilical

No que diz respeito à utilização dos bancos de cordão umbilical a título clínico e de pesquisa, o Pontífice recordou que a pesquisa médico-científica "é um valor, e portanto um compromisso, não somente para os pesquisadores, mas para toda a comunidade civil". Daí surge a necessidade de se promoverem pesquisas eticamente válidas e destinadas a promover o bem comum. O Papa citou o caso do emprego de células estaminais provenientes do cordão umbilical como um exemplo:

"Trata-se de aplicações clínicas importantes e de pesquisas promissoras no plano científico, mas que, na sua realização, muito dependem da generosidade na doação do sangue cordonal no momento do parto e da adequação das estruturas, para fomentar a vontade de doação por parte das grávidas".

Quanto ao crescente aumento no número de bancos privados para a conservação do sangue cordonal apenas para uso pessoal, o Bispo de Roma apontou que tal opção, "além de ser privada de uma real superioridade científica com relação à doação cordonal, debilita o genuíno espírito de solidariedade que deve constantemente animar a pesquisa daquele bem comum ao qual, em última análise, a ciência e a pesquisa médica tendem".



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domingo, 13 de fevereiro de 2011

Discurso de Madre Teresa de Calcuta

"Eu sinto que o grande destruidor da paz hoje é o aborto, porque é uma guerra contra a criança, uma matança direta de crianças inocentes, assassinadas pela própria mãe.

E se nós aceitamos que uma mãe pode matar até mesmo seu próprio filho, como é que nós podemos dizer às outras pessoas para não se matarem? Como é que nós persuadimos uma mulher a não fazer o aborto? Como sempre, nós devemos persuadi-la com amor e nós devemos nos lembrar que amor significa estar disposto a doar-se até que machuque. Jesus deu Sua vida por amor de nós. Assim, a mãe que pensa em abortar, deve ser ajudada a amar, ou seja, a doar-se até que machuque seus planos, ou seu tempo livre, para respeitar a vida de seu filho. O pai desta criança, quem quer que ele seja, deve também doar-se até que machuque.

Através do aborto, a mãe não aprende a amar, mas mata seu próprio filho para resolver seus problemas.
E, através do aborto, diz-se ao pai que ele não tem que ter nenhuma responsabilidade pela criança que ele trouxe ao mundo. Este pai provavelmente vai colocar outras mulheres na mesma situação. Logo, o aborto apenas traz mais aborto.

Qualquer país que aceite o aborto não está ensinando o seu povo a amar, mas a usar de qualquer violência para conseguir o que se quer. É por isso que o maior destruidor do amor e da paz é o aborto.
Muitas pessoas são muito, muito preocupadas com as crianças da Índia, com as crianças da África onde muitas delas morrem de fome, etc. Muitas pessoas também são preocupadas com toda a violência nos Estados Unidos. Estas preocupações são muito boas. Mas freqüentemente estas mesmas pessoas não estão preocupadas com os milhões que estão sendo mortos pela decisão deliberada de suas próprias mães. E isto é que é o maior destruidor da paz hoje - o aborto que coloca as pessoas em tal cegueira.
E por causa disto eu apelo na Índia e apelo em todo lugar - "Vamos resgatar a criança." A criança é o dom de Deus para a família. Cada criança é criada `a imagem e semelhança de Deus para grandes coisas - para amar e ser amada. Neste ano da família nós devemos trazer a criança de volta ao centro de nosso cuidado e preocupação. Esta é a única maneira pela qual nosso mundo pode sobreviver porque nossas crianças são a única esperança do futuro. Quando as pessoas mais velhas são chamadas para Deus, somente seus filhos podem tomar seus lugares.
Mas o que Deus diz para nós? Ele diz: "Mesmo se a mãe se esquecer de seu filho, Eu jamais te esquecerei. Eu gravei seu nome na palma de minha mão." (Is 49). Nós estamos gravados na palma da mão de Deus; aquela criança que ainda não nasceu está gravada na mão de Deus desde a concepção e é chamada por Deus a amar e ser amada, não somente nesta vida, mas para sempre. Deus jamais se esquece de nós.
Eu vou lhe contar uma coisa bonita. Nós estamos lutando contra o aborto pela adoção - tomando conta da mãe e da adoção de seu bebê. Nós temos salvo milhares de vidas. Nós mandamos a mensagem para as clínicas, para os hospitais e estações policiais: "Por favor não destrua a criança, nós ficaremos com ela." Nós sempre temos alguém para dizer para as mães em dificuldade: "Venha, nós tomaremos conta de você, nós conseguiremos um lar para seu filho". E nós temos uma enorme demanda de casais que não podem ter um filho - mas eu nunca dou uma criança para um casal que tenha feito algo para não ter um filho. Jesus disse: "Aquele que recebe uma criança em meu nome, a mim recebe." Ao adotar uma criança, estes casais recebem Jesus mas, ao abortar uma criança, um casal se recusa a receber Jesus.
Por favor não mate a criança. Eu quero a criança. Por favor me dê a criança. Eu estou disposta a aceitar qualquer criança que estiver para ser abortada e dar esta criança a um casal que irá amar a criança e ser amado por ela.
Só de nosso lar de crianças em Calcutá, nós salvamos mais de 3000 crianças do aborto. Estas crianças trouxeram tanto amor e alegria para seus pais adotivos e crescem tão cheias de amor e de alegria.
Eu sei que os casais têm que planejar sua família e para isto existe o planejamento familiar natural.

A forma de planejar a família é o planejamento familiar natural, não a contracepção.
Ao destruir o poder de dar a vida, através da contracepção, um marido ou esposa está fazendo algo para si mesmo. Atrai a atenção para si e assim destrói o dom do amor nele ou nela. Ao amar, o marido e mulher devem voltar a atenção entre si como acontece no planejamento familiar natural, e não para si mesmo, como acontece na contracepção. Uma vez que o amor vivo é destruído pela contracepção, facilmente segue-se o aborto.

Eu sei também que existem enormes problemas no mundo - que muitos esposos não se amam o suficiente para praticar o planejamento familiar natural. Nós não temos condições de resolver todos os problemas do mundo, mas não vamos trazer o pior problema de todos, que é a destruição do amor. E isto é o que acontece quando dizemos às pessoas para praticarem a contracepção e o aborto.

Os pobres são grandes pessoas. Eles podem nos ensinar tantas coisas belas. Uma vez uma delas veio nos agradecer por ensinar-lhe o planejamento familiar natural e disse: "Vocês que praticam a castidade, vocês são as melhores pessoas para nos ensinar o planejamento familiar natural porque não é nada mais que um auto-controle por amor de um ao outro." E o que esta pobre pessoa disse é a pura verdade. Estas pessoas pobres talvez não tenham algo para comer, talvez não tenham uma casa para morar, mas eles ainda podem ser ótimas pessoas quando são espiritualmente ricos.

Quando eu tiro uma pessoa da rua, faminta, eu dou-lhe um prato de arroz, um pedaço de pão. Mas uma pessoa que é excluída, que se sente não desejada, mal amada, aterrorizada, a pessoa que foi colocada para fora da sociedade - esta pobreza espiritual é muito mais difícil de vencer. E o aborto, que com freqüência vem da contracepção, faz uma pessoa se tornar pobre espiritualmente, e esta é a pior pobreza e a mais difícil de vencer.
Nós não somos assistentes sociais. Nós podemos estar fazendo trabalho de assistência social aos olhos de algumas pessoas, mas nós devemos ser contemplativas no coração do mundo. Pois estamos tocando no corpo de Cristo e estamos sempre em Sua presença.

Você também deve trazer esta presença de Deus para sua família, pois a família que reza unida, permanece unida.

Existe tanto ódio, tanta miséria, e nós com nossas orações, com nosso sacrifício, estamos começando em casa. O amor começa em casa, e não se trata do quanto nós fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos.
Se somos contemplativas no coração do mundo com todos os seus problemas, estes problemas jamais podem nos desencorajar. Nós devemos nos lembrar o que Deus fala na Escritura: "Mesmo se a mãe esquecer-se do filho que amamenta - algo impossível, mesmo se ela o esquecesse - Eu não te esqueceria nunca."

E aqui estou eu falando com vocês. Eu desejo que vocês encontrem os pobres daqui, na sua própria casa primeiro. E comece a amar ali. Seja a boa nova para o seu próprio povo primeiro. E descubra sobre o seu vizinho ao lado. Você sabe quem são eles?

Deus jamais nos esquecerá e sempre existe algo que você e eu podemos fazer. Nós podemos manter a alegria do amor de Jesus em nossos corações, e partilhar esta alegria com todos aqueles de quem nos aproximarmos.

Vamos insistir que - cada criança não seja indesejada, mal amada, mal cuidada, ou morta e jogada fora. E doe-se até que machuque - com um sorriso.

Porque eu falo muito sobre doar-se com um sorriso nos lábios, uma vez um professor dos Estados Unidos me perguntou: "Você é casada?" E eu disse: "Sim, e algumas vezes eu acho difícil sorrir para meu esposo, Jesus, porque Ele pode ser muito exigente - algumas vezes." Isto é mesmo algo verdadeiro.

E é aí que entra o amor - quando exige de nós, e ainda assim podemos dar com alegria.

Se nos lembrarmos que Deus nos ama, e que nós podemos amar os outros como Ele nos ama, então a América pode se tornar um sinal de paz para o mundo.

Daqui deve sair para o mundo, um sinal de cuidado para o mais fraco dos fracos - a futura criança. Se vocês se tornarem uma luz ardente de justiça e paz no mundo, então vocês serão verdadeiramente aquilo pelo qual os fundadores deste país lutaram. Deus vos abençoe!"

Madre Teresa de Calcutá

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Mais um intercessor provida no céu

Sobre a morte de meu Bispo Emérito

Desejo escrever melhor em outra ocasião, mas não quero deixar este momento em branco. No sábado passado, 8 de janeiro, por volta das 9 horas, faleceu Dom Manoel Pestana Filho, em Santos (SP). A Providência Divina quis que ele morresse na mesma cidade onde nascera e fora ordenado Bispo.
Estava lá de viagem, em visita a seus familiares e amigos. Faleceu no convento das irmãs da Toca de Assis, antes que pudesse retornar a sua casa em Anápolis (GO). O motivo da morte parece ter sido um enfarto.

Bispo Diocesano de Anápolis de 1979 a 2004, Dom Manoel conseguiu atrair a sua diocese do Centro-Oeste brasileiro gente de toda a parte. Ouvia-se dizer que lá havia um Bispo corajoso, fiel ao Magistério, obediente à Igreja. Fora apelidado "um novo Atanásio" por Dom Marcos Barbosa, monge beneditino do Rio de Janeiro.

Da Alemanha, os cônegos regulares da recém-restaurada Ordem da Santa Cruz vieram para Anápolis onde fundaram o "Institutum Sapientiae", com o carisma específico de se dedicar a formação do clero. Era lá que os seminaristas diocesanos (inclusive eu) tinham suas aulas.
Quanto ao seminário, Dom Manoel empenhou-se pessoalmente em construí-lo. As primeiras instalações foram sua própria residência episcopal. O corpo docente era constituído (quase?) exclusivamente pelo Bispo, até que os cônegos regulares viessem ajudá-lo.
Quando, atraído por sua fama, transferi-me da Arquidiocese do Rio de Janeiro, onde estudava, para a Diocese de Anápolis, em 1989, o seminário Imaculado de Maria funcionava, não mais na casa episcopal, mas em outro lugar provisório: a "casa do sacerdote e das vocações sacerdotais", projetada para servir de abrigo a padres idosos. Somente bem mais tarde, em 2004, seria inaugurado o prédio definitivo que hoje abriga os seminaristas.

Para falar a verdade, quando cheguei, percebi que a Diocese de Anápolis não tinha nada de mais. Era simplesmente uma diocese católica. No seminário rezava-se o terço, fazia-se adoração eucarística e leitura espiritual. Falava-se de Nossa Senhora com a familiaridade de filhos, sem aquele temor constante de evitar eventuais "exageros". Na faculdade, estudava-se a filosofia tomista e a teologia católica. Grande apreço era dado aos documentos do Concílio Vaticano II, que serviram de base para diversas das disciplinas que estudei. Quanto à liturgia, encorajava-se recitar o "Novus Ordo Missae", do Papa Paulo VI.
Nunca vi uma ordem de Dom Manoel obrigando os padres a vestirem batina. No entanto, nós o imitávamos espontaneamente. Sua mais eloquente pregação era o exemplo.

Ao contrário do que falsamente foi depois atribuído a ele, Dom Manoel tinha um espírito muito aberto. Desejava a unidade, mas não exigia a uniformidade. Respeitava o carisma que o Espírito Santo suscitava em cada pessoa, em cada grupo, em cada movimento, em cada comunidade.

Nunca o vi orando em voz alta e de mãos levantadas. No entanto, ele se dava muito bem com os membros da Renovação Carismática Católica (RCC), desde fossem fiéis a fé e à moral católicas. Quando se falava dos abusos da RCC, ele replicava dizendo que cabia aos padres vigiar para corrigi-los. "Mas - dizia ele sempre - não devemos apagar a mecha que ainda fumega".

Todas as vezes em que presenciei Dom Manoel celebrar, fosse em público, fosse em privado, na capela de sua residência, ele usou o "Novus Ordo Missae" (forma ordinária). No entanto, ela não se importava se em sua Diocese algum sacerdote quisesse celebrar a Missa de São Pio VI (forma extraordinária). Nem recusava algum convite de celebrá-la se alguém lhe pedisse.

Ele gostava de repetir um adágio de autoria, se não me engano, do grande reformador São Carlos Borromeu: "omnia videre, multa tollerare, pauca corrigere" (ver tudo, tolerar muitas coisas, corrigir poucas). As poucas coisas que ele se sentiu obrigado a corrigir custaram-lhe uma violenta perseguição. Uma delas foi a introdução da confissão auricular e individual, tal como prescreve o Direito Canônico. Conta-se que, recém-chegado à Diocese, ao anunciar que na Catedral havia padres prontos para ouvir confissões, ele foi alvo de uma grande vaia. Após essa humilhação pública, os que restaram dirigiram-se aos sacerdote a fim de se confessarem.

Suas refeições eram sempre simples. Bondosamente ele dividia sua mesa com qualquer visitante, até o mais ocasional. Às sextas-feiras, ele dava folga à cozinheira. Era o seu dia de jejum. Certa vez, almoçando em sua casa, fiquei sabendo que ele próprio preparara o delicioso "estrogonofe de atum" que estava sendo servido.

Sua disponibilidade contínua para com o povo, fazia com que ele não encontrasse tempo para escrever livros. Escreveu numerosos (e inflamados) artigos, entre os quais aquele que em 1987 valeu-lhe o título de "novo Atanásio" dado por Dom Marcos Barbosa. Mas não se dava o direito de concentrar-se para escrever do início ao fim uma obra longa. A única exceção foi seu livro "Igreja doméstica", sobre o matrimônio e a família, publicado em 1980.

Embora sempre estivesse risonho e bem humorado, havia certas coisas que o enchiam daquela ira santa que experimentou Jesus diante dos vendilhões no Templo. Uma delas era o aborto. Outra era o atentado à inocência das crianças. A família era tema recorrente em suas pregações. Não conseguia conceber um apostolado que não fosse centrado na união perpétua de vida e de amor entre um homem e uma mulher, com abertura à geração e educação da prole.

Foi ele que em pessoa resolveu fundar em Anápolis o movimento Pró-Vida em 1989, quando recebeu em sua diocese a visita de um grupo de militantes da "Human Life International" (HLI) dos Estados Unidos, acompanhados de Mons. Ney Sá Earp, grande líder pró-vida do Rio de Janeiro. O Pró-Vida de Anápolis funcionou de início na própria Cúria Diocesana, dirigido pessoalmente por ele, juntamente com alguns leigos. De lá saíam os que iam aconselhar gestantes, dar palestras em escolas e fazer manifestações contra o aborto. Ele próprio introduziu o costume de se fazer, em cada dia 28 de dezembro, a Marcha dos Santos Inocentes, na qual crianças atravessavam as ruas da cidade enquanto adultos falavam ao megafone contra o aborto.

Quando, assustado pelo perigo da iminente legalização do aborto no Brasil, sugeri a Dom Manoel que organizássemos uma caravana a Brasília, a resposta foi um "sim" entusiástico. Em 16 de agosto de 1996, ele se dirigia à Praça dos Três Poderes juntamente com cerca de 3000 pessoas portando faixas e cartazes pró-vida. Naquele ano e no ano seguinte, estava em pauta o perigoso Projeto de Lei 20/91, que pretendia obrigar o SUS a praticar aborto. Quase toda semana tínhamos que ir a Brasília em ônibus fretados para impedir a aprovação do projeto. Conosco estava sempre Dom Manoel, que deixava de lado todos os seus afazeres na Cúria Diocesana.

O grande legado de Dom Manoel foi a criação do Pró-Vida de Anápolis, que foi registrado em cartório, com personalidade jurídica, somente em 1997, e subsiste até hoje. No Estatuto, ele fez questão de incluir a defesa da família ao lado da defesa da vida. E entre os objetivos, colocou a formação para a castidade.

Os que se consideram adeptos do progresso, deveriam ter conhecido a figura desse Bispo. Era fascinado pelas novas tecnologias a serviço da evangelização: rádio, televisão, cinema, Internet. Tinha o sonho de criar uma emissora de rádio e uma de televisão na Diocese. Prestigiou pessoalmente a inauguração da Rede Vida, que ele via como uma grande esperança de penetração do Evangelho nos lares católicos. Mesmo antes que a Internet chegasse ao Brasil, ele já procurava fazer os seminaristas se familiarizarem com o recurso à informática. Em 1996, ele aprovou com entusiasmo o sítio do Pró-Vida de Anápolis, uma das primeiras páginas a entrar no ar em defesa da vida e da família. Tudo que era inovação, desde que não ferisse o imutável depósito da fé, era bem-vindo.

A paixão de Dom Manoel pelos livros se manifesta em sua colossal biblioteca, que foi colecionando ao longo dos anos. Depois de se tornar emérito, em 2004, foi difícil terminar de catalogar toda aquela multidão de obras. Ele, porém, não se dava por satisfeito, e estava sempre comprando "coisas novas e velhas": livros recém-editados ou preciosidades vendidas no "sebo".

Sempre com uma saúde debilitada, há muitos anos ele se dizia "moribundo em precário estado de conservação". Já havia sido levado várias vezes à UTI e recebido outras tantas vezes a Unção dos Enfermos. Ultimamente fora bem sucedido em uma cirurgia nos joelhos, que fez com que pudesse andar (embora com o auxílio de uma bengala) sem necessidade da cadeira de rodas. Não esperávamos que ele morresse no dia 8, antes de retornar a nós. Mas, pensando bem, há muito não deveríamos nos surpreender com uma eventual (embora triste) notícia de sua morte.

Há poucos meses, em visita a sua casa, eu lhe falara do plano de ele terminar seus dias em uma nova sede do Pró-Vida de Anápolis, que seria construída em um terreno a ele doado em 1989. Ele ficou muito entusiasmado. Respondeu sorrindo e batendo as mãos. Deus porém preparava para ele uma casa melhor. E em um prazo menor.

Uma das coisas que deve ter acelerado sua morte foi sua angústia (mortal?) pela situação política do Brasil. Ele se afligia sobremaneira ao ver nosso país ser invadido e dominado pelo terrorismo vermelho, que não poupa o respeito à vida nem à família. Nestas últimas eleições, ele lançou um apelo ardente a seus irmãos no episcopado (http://www.providaanapolis.org.br/apelard.htm). Sua voz encontrou eco em alguns Bispos, em especial os do Regional Sul 1, que se coligaram para denunciar o plano do PT de implantar a cultura da morte no país. Quando foi anunciada a vitória de Dilma, ele se abalou sobremaneira. No entanto, escreveu-me recomendando coragem, uma vez que "uma batalha perdida não é uma guerra desperdiçada". E ainda: "Deus não exige de nós a vitória, mas a luta".

A morte de Dom Manoel está longe de ser um sossego para os promotores do aborto. Ao contrário: à semelhança do grão de trigo, que só dá frutos quando morre, da morte desse Bispo devemos esperar grandes frutos para nossa terra. Ele morreu como vítima, oferecida com Cristo em nosso favor. Agora, ganhamos um intercessor junto ao Pai.

A Dom Manoel, sepultado na Catedral ontem, minha saudade, minha gratidão e minha admiração. Mas sobretudo meu amor.
Lembre-se de nós, que gememos e choramos neste vale de lágrimas.
Permita-me repetir a jaculatória que o senhor mesmo nos ensinou:
"Coração Imaculado de Maria, livrai-nos da maldição do aborto".

--
Pe. Luiz Carlos Lodi da Cruz
Presidente do Pró-Vida de Anápolis
Telefax: 55+62+3321-0900
Caixa Postal 456
75024-970 Anápolis GO
http://www.providaanapolis.org.br
"Coração Imaculado de Maria, livrai-nos da maldição do aborto"