A história de Maria Tereza, Anencéfala
Por Ana Cecília Araújo Nunes
Membro da Comunidade Católica Shalom
Alguns setores da sociedade vêm tentando fazer legalizar no Brasil o aborto de bebês que sofrem de anencefalia, má-formação congênita que causa a ausência de uma parte (e não de todo como tem sido dito) do cérebro no feto. Os partidários do aborto freqüentemente alegam que a interrupção da gravidez pouparia a mãe do sofrimento psicológico de carregar no seu ventre um filho que terá apenas umas poucas horas de vida. Dizem também que seria arriscado para a mãe levar uma gravidez desse tipo até o fim. A história da pequena Maria Tereza, criança anencéfala que viveu 101 dias, entretanto, mostra a fragilidade desses argumentos.
No relato abaixo, a Profª. Ana Cecília de Araújo Nunes, mãe de Maria Tereza, conta como a sua opção pela vida fez com que ela e toda a sua família amadurecessem no amor e estreitassem a sua união, sendo hoje muito mais felizes apesar do sofrimento.
O texto é acompanhado por fotos do bebê e por reproduções de documentos que comprovam os seus 101 dias de vida.
A vida é um mistério! Um mistério de amor! Você que me lê agora, só o faz porque alguém o acolheu em seu ventre, respeitou a sua vida. Talvez esse alguém não soubesse se você era perfeito, porém permitiu a sua existência. Alguém “existiu” (em latim existere: sair de si), sua mãe, para que você existisse. Na verdade, é a força do amor que nos faz viver.
A vida. Estudamos para compreendê-la melhor, trabalhamos para vivê-la com mais qualidade, debruçamo-nos sobre teorias, argumentações, filosofias, em busca da felicidade. Indago-me por vezes: sabe o homem o que é a felicidade, quando nega a vida? Aborto: negação da vida. Digo NÃO ao aborto em qualquer circunstância; com a propriedade daquilo que vivi, afirmo a todas as mulheres do mundo: somos geradoras da vida! Nosso ser mais profundo brada esse grito: Vida! Negando-a, a mulher nega a si mesma!
Impressionam-me as vozes femininas que, lamentavelmente, são propagadoras de um falso bem-estar, da eliminação de um “problema”, da interrupção de uma gravidez, ou como estão chamando atualmente, da “antecipação do parto” nos casos de crianças anencéfalas. Sinceramente, vivi esta realidade como mãe de Maria Tereza, bebê anencéfalo, nascido no dia 17 de dezembro do ano 2000. Hoje experimento uma liberdade interior surpreendente. Tenho a consciência limpa e tranqüila diante dos meus filhos (tenho outros três filhos, Ana Karine, 15 anos, Felipe José, 12 anos, e Maria Clara, 9 anos) e de todos. Com muita liberdade, dou a conhecer a pequena Maria Tereza, um sinal de esperança na vida, mesmo nas condições mais adversas.
No início de março engravidei, e com doze semanas de gestação fiz um exame denominado translucência nucal, uma ultra-sonografia que revela se a criança tem alguma síndrome. Foi detectada uma má-formação grave denominada anencefalia. Somente quando o feto já está completamente formado é possível identificar o problema. Era uma menina!
Apesar do impacto da notícia, nem por um momento ventilei a possibilidade de um aborto. Procurei ter o máximo de informações sobre essa má-formação que, segundo a literatura médica, é uma das mais comuns. O bebê vive apenas horas ou, no máximo, de um a dois dias. Pensava naquele momento: “Minha mãe deu-me o direito de viver, e eu também vou dá-lo a minha filha. Não sou árbitro da vida. Deus deu a vida, pois que Ele a tire quando for hora. Cabe a mim a missão de acolher a vida, não importando as condições em que ela se apresente. Ou será que posso abandonar ou abreviar a vida do filho para o qual a medicina só prevê dias, ou horas?” Dizem alguns que o bebê anencéfalo sofre quando nasce: Será um sofrimento maior que ser arrancado aos pedaços no aborto por sucção, em que o feto é literalmente dilacerado?
Minha gravidez transcorreu normalmente. Fiz pré-natal, tomei as medicações necessárias. Interiormente sofria muito, por saber que minha filha não viveria; mas procurei viver a sabedoria do dia-a-dia! Pensava: “Hoje ela está comigo, por isso vou amá-la com todas as minhas forças. Amanhã, bem... Deus cuidará!”
Maria Tereza nasceu, chorou forte, e os médicos admiraram-se. Seu caso foi considerado muito grave, pois não havia nenhuma proteção de pele em sua cabeça. Aguardávamos a qualquer momento o seu falecimento.
Passaram-se minutos, horas, dias... E a pequena Maria Tereza, vivendo... Foi contemplada por muitos, interpelava as consciências. Como seria possível? Com 19 dias, recebemos alta hospitalar e Tereza, foi acolhida em seu lar. Foi alimentada inicialmente por sonda, depois tomava leite materno por colherinha e mamava por alguns minutos. Meus outros filhos cuidavam dela, tomavam-na nos braços, ajudavam-me a banhá-la, sabiam que sua vida seria breve, mas aprenderam a respeitá-la e amá-la. Foram preparados para passar pela dor da perda com a dignidade que esse mistério comporta.
A 29 de março de 2001, Maria Tereza, realizou sua Páscoa. Uma grande filha de Deus. Em seus breves, mas preciosos dias, exalou vida, sofreu, mas venceu. Isso mostra para mim, para você, para nós todos que o sombrio discurso do aborto é egoísta, significa fechar-se em si mesmo. Você, que é mãe, não se deixe levar pela onda hedonista, desumanizante, que avassala os corações tirando-lhes a possibilidade de experimentar a alegria de dar a vida, de renunciar-se pelo outro, de ver o amor vencer .
Hoje somos uma família muito mais feliz! Rogo a Deus que ilumine a consciência de nossas Autoridades para decidirem em favor da vida, seja ela como for.
Ana Cecília Araújo Nunes
Professora de Educação da Universidade Estadual do Ceará
Membro da Comunidade Católica Shalom
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